O Ano do Dilúvio é um romance de ficção científica escrito por Margaret Atwood e recém publicado pela Rocco. Como parte do relançamento da obra de Atwood no Brasil, a Rocco lança o livro que faz parte de uma trilogia que se inicia com Oryx e Crake e termina em MaddAddam (ainda inédito no Brasil). Cada um dos livros da série se passa no mesmo futuro pós-apocalíptico, onde uma grande pandemia destrói a raça humana. Em O Ano do Dilúvio acompanhamos Toby e Ren. Enquanto tentam sobreviver nessa nova e inóspita realidade, elas relembram os anos da juventude ao lado da seita religiosa dos Jardineiros de Deus.
Os capítulos do livro se intercalam com as narrações de Toby e Ren, ao início de cada parte há um interlúdio narrado por Adão 1, líder da seita dos Jardineiros. Pelos interlúdios descobrimos mais sobre a religião que acredita que a natureza é uma manifestação do poder de Deus. Os membros dos Jardineiros vivem à parte da sociedade, na Plebelandia, lugar onde os excluídos lutam para sobreviver.
“Amanda me chamou de romântica. Ela disse que o amor é inútil porque leva a trocas estúpidas, que nos faz desistir de muitas coisas e depois nos torna amargos e mais”
Eles vivem com uma dieta vegetariana restrita, acreditam que o consumismo e o descaso com a natureza são a razão de o mundo estar decaindo, e acreditam na vinda do Dilúvio Seco. Com o dilúvio a terra voltará a ser o jardim do éden. Vivendo entre os Jardineiros elas aprendem a caçar, a viver em condições extremas e se preparar para o grande Dilúvio. Ren sobrevive por sorte, enquanto Toby sobrevive graças à religião.
Enquanto passado e presente se misturam, vamos descobrindo mais sobre essa terra distópica, regida pelas grandes corporações. Toby tem sua vida destruída pela CorpSeCorps e pela HelthWyzer. Parte da distopia criada por Margaret incluí um mundo onde empresas comandam o governo, tudo o que fazem é oculto e perdoado. É graças a isso que a mãe de Toby serve de cobaia para a criação de um medicamento e morre por conta disso. Se não bastassem todos os absurdos dessa realidade perturbada, Toby trabalha na SecretBurger, uma empresa que faz carne a partir de restos de lixo e gente. Toby é abusada por seu patrão e é salva pela seita.
A partir daí passa a viver escondida entre os religiosos e encontra um novo lar. A vida de Ren é um pouco diferente. Lucerne, mãe de Ren, foge com Zeb, um dos criadores da seita religiosa, e carrega a filha para viver no território de Adão. Ren cresce entre as crianças jardineiras, se envolvendo em brigas com as crianças da plebe e sonhando com o dia que voltará para o seu lar, no complexo da HelthWyzer, até que conhece Amanda. A nova amiga traz alegria para Ren e juntas passam a viver entre os Jardineiros.
“É uma queda eternam e sua trajetória conduz para o fundo de um poço que nunca termina. Sugado pelo bem do conhecimento, você afunda e aprende cada vez, mas nunca alcança a felicidade. E assim foi com Toby quando ela se tornou uma Eva.”
O Ano do Dilúvio é um grande quebra-cabeças. Muita coisa é subentendida e cabe ao leitor se esgueirar nas entrelinhas criadas por Margaret Atwood. O universo criado é completamente desesperançoso, mesmo antes do apocalipse. A população que vive à margem da sociedade não tem futuro algum. As crianças crescem para se tornar bandidos, prostitutas e cobaias ambulantes. Mesmo os que nascem nos condomínios não estão protegidos. Muitos dos cientistas acabam se revoltando e vendendo informações, outros terminam sequestrados.
Margaret se prova como uma das maiores escritoras do gênero, cada detalhe criado pela autora tem razão, seu futuro distópico é bastante complexo e não peca em momento nenhum. Estou ansiosa para ler o final da série. Para quem não leu o primeiro livro não há problemas. As histórias são independentes, mesmo que alguns personagens apareçam aqui e acolá.
Fica a recomendação de um livro desta que se tornou uma das minhas escritoras favoritas. Margaret não para de me impressionar. A fluidez com que narra a história me fez passar por mais de 400 páginas como se não fosse nada. Cada cliffhanger era um tormento e me via desesperada para ler o próximo capítulo. Várias noites em claro por conta da autora, mas para um leitor, nada é melhor do que isso.
Margaret é soberba!E cada vez mais tenho certeza que a autora chegou para ficar. Apesar de só ter lido O Conto da Aia dela, foi mais que suficiente para me apaixonar por sua maneira de conduzir os enredos, sempre trazendo esse futuro incerto a nós, mas certo demais aos personagens que ela apresenta.
A série da tv baseada em sua obra, também é um fenômeno mundial e cada vez, ela é assistida e ovacionada.
Com certeza, espero conferir este novo trabalho da autora.
Beijo
Ainda não li nada dela, mas pretendo iniciar com O conto da aia.
Ela aborda temas fortes, e pelo visto sabe como conduzir.
Acho que será fascinante conhecer a escrita dela.
Beijos
Esse universo parece ser bem complexo mas eu amei! Por enquanto só li O conto da aia da autora e se tornou um dos meus livros preferidos por causa da escrita e da construção de mundo que a Margaret fez. Estou muito curiosa pra ler essa série também.
Olá Beatriz!
Já conferi outras resenhas acerca da obra e já consolidei a conclusão de que a autora domina o gênero de uma forma de poucos o conseguem. O cenário distópico criado por Atwood foge de todos os clichés e ainda dá enfoque para a crítica religiosa, um tema que nunca deixa de ser pertinente para reflexões, não é mesmo? Confesso que achei a escrita da autora mais complexa aqui do que em The Handmaid’s Tale, o que pode exigir uma leitura mais cuidadosa por parte do leitor. Digo isso, só podemos aguardar por uma adaptação dessa trilogia, né?
Beijos.
Definitivamente Distopia não é meu gênero preferido. Essa leitura não me apetece.
Gosto muito de livros que colocam a gente pra refletir em como é fácil se destruir. Livros assim me levam a questionar muitas “verdades” difundidas pelo mundo, questionar até mesmo minhas convicções.
Os livros de Margaret Atwood deveriam ser indicados nas escolas e universidades, porque é pra mim uma das autoras que melhor equilibra dois dos maiores poderes da leitura: estimular a imaginação e fazer o leitor refletir.