Qualquer pessoa que leu a minha resenha de Asiáticos Podres de Ricos sabe que neste caso específico eu preciso dizer que o filme foi consideravelmente melhor que o livro. E assim, eu entendo que, durante a construção do enredo, Kwan precisou explicar a arvore genealógica de absolutamente todo mundo no livro, mas o fato do filme conseguir escapar de toda essa enrolação e focar no que realmente importa – o relacionamento de Rachel e Nick – já torna o filme melhor que o livro sem precisar fazer esforço.
Diferente do livro que conta várias histórias paralelas, a versão dos cinemas resolveu manter todo o foco no casal principal, mesmo que em alguns momentos a trama mudasse um pouco o foco para Astrid – assim como no livro. Eu gostei muito que o roteiro investiu mais em mostrar como era a verdadeira relação do Nick com a sua família e como a Rachel se sentia completamente deslocada naquele universo. Além disso, o filme deixou muito mais claro que a relação entre os dois era realmente muito forte e que existe uma conexão ali que o livro deixou escapar muitas vezes.
É claro que, por ser uma adaptação, mudanças foram necessárias. Neste ponto, eu não tenho muito do que reclamar, considerando que algumas coisas na narrativa de Kwan tenham sido um tanto quanto exageradas. Por exemplo, no filme eles reduzem todas as intrigas e vinganças das ex-namoradas de Nick a uma única cena e tiram completamente as provocações desnecessárias, onde elas jogam na cara da Rachel todas as coisas que o Nick costumava fazer antes de conhece-la.
Infelizmente, nessa onda de cortes, nós tivemos a história da Astrid – também conhecida como a parte mais interessante do livro – reduzida a algumas cenas apenas para pesar na história a realidade da família do Nick. Confesso que quando eu li o livro, por causa de todas as informações, eu não cheguei a pesar a história da Astrid da maneira correta, mas com o filme fica mais do que claro que fazer parte da família Young não é uma tarefa muito fácil e que Rachel não tem a menor ideia de onde está se metendo.
Não me surpreende nem um pouco que o filme tenha ganhado atenção de muita gente. A produção do filme não foi uma das coisas mais fáceis de se fazer, principalmente considerando a quantidade de itens caros utilizados para produzir as cenas. Ainda assim, Jon Chu conseguiu entregar para o público um filme com diálogos divertidos e cenas hilárias muito melhor do que Kevin Kwan conseguiu durante as extensas 487 páginas. E não é esse o objetivo, afinal?
E a gente precisa muito falar sobre como a cena da Radio1Asian é muito mais engraçada na tela do cinema do que lendo sobre. As vizinhas que ficam na janela tomando conta da vida dos outros não teriam capacidade de espalhar uma fofoca tão rápido como esses asiáticos, sério! Eu fiquei muito chocada como que em poucos minutos eles descobriram tudo sobre a vida da Rachel e absolutamente todo mundo de Singapura já estava sabendo até a cor da calcinha que ela estava usando.
Asiáticos Podres de Ricos é uma adaptação que a gente precisava há muito tempo. Não só pela questão da representatividade, até porque Para Todos os Garotos que Já Amei também foi uma grande conquista que tivemos esse ano, mas também pelo fato de que é uma comédia romântica saudável, sem estereótipos ofensivos e com diálogos engraçados, que realmente fazem com que você queira assistir esse filme mais de uma vez. E tem muito tempo que eu não assisto uma adaptação tão boa assim.
E tudo bem, embora eu tenha falado muito bem do filme, eu não vou dizer para vocês desistirem de ler o livro. Eu acho que a obra de Kwan se aprofunda muito mais na realidade dessas famílias tradicionais que o filme poderia se dar ao luxo de fazer, o que acaba sendo um bom contexto para quem quiser assistir ao filme depois – ou antes. Mas, é sempre bom deixar claro que se você não é muito fã de longas narrativas, você pode optar por assistir apenas ao filme que tudo vai ficar mais do que bem.