Eu não vou dizer para vocês que eu sou uma culta na arte do cinema, porque eu não sou. Mas antes de eu me apaixonar por livros, a minha outra paixão era assistir filmes e séries na televisão. Eu nunca tive canal fechado em casa, então eu dependia do que a Globo ou a SBT escolhessem passar no horário da tarde, depois que eu chegava da escola. De qualquer forma, filmes sempre mexeram comigo e sempre tiveram um impacto na minha vida, e por isso eu resolvi trazer de volta dos mortos a categoria “Cinema” aqui do blog, para falar sobre alguns filmes que eu amo e que eu acho que vocês vão amar também.
Conheci Guillermo Del Toro por causa de uma amiga minha que é apaixonada pelo trabalho dele. Del Toro é responsável por um dos meus filmes favoritos: O Labirinto do Fauno, mas vocês provavelmente o conhecem por conta de um outro filme – também muito maravilhoso – chamado Círculo de Fogo. Verdade seja dita, de todos os poucos diretores de cinema que eu conheço, Del Toro é o que mais dá vida a roteiros que realmente me deixam extasiada e, com The Shape of Water não foi nem um pouco diferente – eu já estava apaixonada pelo filme quando assisti ao trailer.
The Shape of Water se passa na década de 60, em meio a grandes conflitos políticos entre os EUA e a União Soviética. O filme narra a história de uma faxineira chamada Eliza, interpretada pela Sally Hawkins, que trabalha em um laboratório secreto do governo. Eliza é muda e toda a sua vida segue uma rotina de repetições até que ela descobre que o laboratório que ela trabalha está fazendo experimentos e torturando um anfíbio capturado na américa do sul. Aos poucos, Eliza acaba se apaixonando pela criatura e resolve criar um plano para poder tirá-lo do cativeiro. Para executar um arriscado e apaixonado resgate ela recorre ao melhor amigo Giles (Richard Jenkins) e à colega de turno Zelda (Octavia Spencer).
A primeira coisa que fez com que eu me apaixonasse completamente por esse filme foi a fotografia. O ambiente da década de 60 em si já é muito atraente, mas eles conseguiram dar vida a esse período histórico de uma forma muito realista. O filme inteiro é acompanhado de tons frios, escuros e dão um ar de mistério com um leve toque romântico para embalar o expectador nessa história de amor inusitada. Tudo isso se encaixa perfeitamente com a trilha sonora cheia de clássicos, incluindo a nossa saudosa Carmem Miranda – uma surpresa muito boa ter essa referencia a música nacional no filme de um dos meus diretores favoritos.
Assista ao trailer do filme:
Octavia Spencer, como sempre, deu um show de atuação no papel de amiga da Eliza. As cenas dela dão um tom um pouco mais cômico no filme, quebrando um pouco a seriedade do enredo. Mas a estrela do filme foi Sally Hawkins com uma interpretação que eu confesso que eu não estava esperando. Eu já conhecia o trabalho de Hawkins quando ela interpretou Anne Elliot, na adaptação de Persuasão da BBC e, dentro do que o filme pedia ela até que entregou bem a personagem. Mas sua interpretação de Eliza está impecável, tanto que eu simplesmente não conseguia desviar minha atenção da personagem, mesmo tendo uma criatura marinha bem ao lado dela. Estou maravilhada com essa mulher, sério!
Eu acho que o mais importante de The Shape of Water é perceber que Guillermo Del Toro escreveu uma carta linda de amor às pessoas que são, de alguma forma, diferentes ou incompletas. Eliza é muda, mas nem por isso ela é infeliz. E ela encontra o amor nos braços de uma criatura que desafia a lógica humana, mas que ainda assim mostra ter mais compaixão do que o próprio ser humano. Desde o roteiro até a trilha sonora, The Shape of Water se mostra hipnótico, envolvente e completo. A fábula da “princesa sem voz” é complexa, picante e de uma honestidade que eu nunca tinha visto em outros filmes.
Tudo em The Shape of Water se encaixa maravilhosamente bem. Eu acho que não tem palavras no mundo que consigam descrever a maravilha que é esta obra-prima de Del Toro. Todos os elementos do filme foram aproveitados, Dan Laustsen deu um show de fotografia e Holly Addams fechou com chave de ourom entregando uma trilha sonora de tirar o fôlego. Talvez The Shape of Water não seja exatamente o seu tipo de filme, mas se você estiver disposto a sair da sua zona de conforto, eu prometo que vai valer muito a pena.