A Garota no Trem é o primeiro romance escrito por Paula Hawkins, que entrou pra lista de mais vendidos do New York Times e, aqui no Brasil, foi publicado pela Editora Record. O livro tem 377 páginas e traz a história de Rachel, uma mulher que faz diariamente o trajeto de ida e volta entre Ashbury e Londres. A rotina é tão normal para ela, que Rachel acabou ficando obcecada pelos habitantes de uma das casas situadas perto da linha do trem, onde vive o casal que ela nomeou de Jess e Jason. Essa é sua rota e visão por dias a fio, até ela tertemunhar uma cena chocante e, dias depois, se ver envolvida no mistério do desaparecimento de Jess, já que ela simplesmente não consegue se manter alheia.
Conhecemos Rachel, assim como a seus problemas sérios com bebidas, principalmente após o término de seu casamento e da descoberta de que seu ex-marido finalmente se tornou pai, enquanto ela nunca conseguiu ser mãe. Entre todos os seus problemas, sua vida despedaçada, ela parece se agarrar ao sucesso do casamento de Jess e Jason, o casal verdadeiro, porém com informações fictícias criadas por ela, e tudo corre bem até ela descobrir que Jess não é bem quem ela pensou e pode estar colocando toda a sua vida perfeita em jogo. Tudo corre bem até Jess desaparecer e Rachel descobrir que sua Jess é, na verdade, Megan, e decidir se enfiar no meio da investigação a fim de ajudar a encontrá-la, ou provar que “Jason”, ou Scott, não é o culpado.
A história de Rachel, o entrelace entre sua vida e as de Scott e Megan, com todo o mistério e reviravoltas, são bons ingredientes para um thriller de muito boa qualidade. Principalmente se a narrativa for bem feita, como é o caso de A Garota no Trem. Paula Hawkins sabe conduzir as histórias, os passos de seus personagens, e em seu livro a autora o faz sempre em primeira pessoa, alternando entre Rachel, Megan e até mesmo Anna – a atual do ex de Rachel! A única coisa que me incomodou foi a quantidade de detalhes, de descrições de cada cena, de cada personagem, mas isso foi no início, quando eu ainda estava pegando o ritmo da leitura.
Embarquei no trem das 8hO4, mas não estou indo para Londres. Em vez disso, ressolvi saltar em Witney. Espero que o ato de passar por lá avive minha memória, que eu chegue à estação e veja tudo claramente, e lembre de tudo. Não alimento grandes esperanças, mas não há nada mais que eu possa fazer. Não tenho como ligar para Tom. Estou com muita vergonha, e, de qualquer maneira, ele deixou bem claro: não quer mais saber de mim.
Megan continua desaparecida; ela sumiu faz mais de sessenta horas, e o caso já está sendo noticiado em rede nacional. Estava no site da BBC e no MailOnline hoje de manhã; havia notas mencionando a história em outros sites também. (p.79)
Quanto aos personagens, achei a construção interessante. As informações e o momento em que elas surgiam foram bem dosados, então, enquanto lia, sempre tinha informações de fundo sobre as personagens, de modo que não fiquei perdida sem saber o que levou àquela cena. A não ser que tivesse sido proposital, obviamente. Rachel foi uma personagem que, de início, não me prendeu a atenção, porque eu simplesmente não a compreendia. Acho que só fui ficar envolvida de verdade lá pela página 80, que foi quando o mistério realmente começou. Outra coisa sobre Rachel, é que ela pode ser bem surpreendente, e a evolução dela durante a leitura é boa: pra quem torcer por ela, seus problemas com álcool às vezes nem surgem enquanto ela se vê envolvida com a resolução do sumiço de Megan.
Megan e Scott, popularmente conhecidos como Jess e Jason – e eu espero que não esteja te confundindo com essa quantidade de nomes para as mesmas pessoas, afinal, culpa da autora-, são um casal que, olha, sinceramente só me pareceram bonitinhos de longe, vistos do trem e pelos olhos idealizadores da Rachel. Scott é um cara abusivo e controlador, na minha opinião, e Megan tem sérios problemas de ansiedade e depressão – além de ter seus segredinhos sujos. Além disso, lidamos ainda com Tom e Anna, ex de Rachel e sua atual esposa, que possuem uma família e moram na mesma rua em que Megan e Scott vivem. Você fica se perguntando o motivo de eles aparecerem tanto na história, e aí, quando se dá conta, boom, tarde demais.
De verdade, sinceramente, do fundo do meu coração: esse livro foi um tapa na minha cara – da forma mais positiva possível, porque minha sensação ao descobrir o que aconteceu de nada foi: Sabe de nada, Jon Snow. Na capa está escrito “Se você gostou de Garota exemplar, vai devorar este thriller psicológico.” e eu devia ter dado ouvidos. Só pra contextualizar, Garota Exemplar e outros livros da mesma autora são livros que me deixam de cabelo em pé, vidrada nas histórias, e A Garota no Trem, apesar de ser escrito por outra pessoa, não me deu sensações diferentes. Amei, me surpreendi e a única coisa que comprometeu minha experiência foi o fim do período letivo, a quantidade de textos e trabalhos: não é o tipo de livro que dê pra ficar pausando a leitura, ou você acaba quebrando o clima. No mais, recomendo bastante pra quem gosta de bancar o Sherlock Holmes, de sentir um frio na espinha e de ter alguém mexendo com a sua cabeça.
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