Não existe outra forma de começar essa resenha se não dizendo que A Menina que Libertou o Pássaro foi completamente diferente do que eu estava esperando, ao mesmo tempo que eu não tenho certeza do que eu estava esperando. Emocionante e profundo, este livro é uma jornada emocional intensa e honesta, onde exploramos nossas fraquezas através dos olhos de um pássaro preto que se torna melhor amigo de uma menina.
Quando Sousa prometeu que esse livro seria emocionante, ela não estava exagerando. Embora a narrativa traga alguns pontos um pouco cansativos e trabalhe com diálogos formais demais, a conexão emocional que a autora cria entre o leitor e os seus personagens é inegável. É impossível que você não se identifique com as dores do pássaro ou os anseios da menina.
“Eu tentava vê-la melhor por trás dos troncos ou atrás de outros animais gordos, mas conforme eu mexia meu pequeno corpo, as folhas acabavam fazendo um barulho denunciativo (…)”
Em A Menina que Libertou o Pássaro, Sousa nos da a oportunidade de encarar situações que marcam as pessoas de uma forma muito profunda, mas do ponto de vista de um pássaro que passou a vida inteira acreditando que não havia um lugar no mundo para ele. E quem nunca se sentiu assim, não é mesmo? Apesar de alguns pontos do enredo eu sentir que a história está sendo um tanto óbvia, a mensagem por trás da fábula é um tapa na cara de quem lê.
A Menina que Libertou o Pássaro fala muito sobre a questão do bullying e como essas famosas “brincadeiras” podem afetar o emocional de uma pessoa, ou no caso do livro, um pássaro. Acho que o que mais me tocou nessa leitura foi o fato de que, por mais que o pássaro tivesse uma “família”, ele era sempre tratado de maneira diferente, excluído, proibido de comer com eles e lembrado a todo o momento o quanto ele devia aos pássaros coloridos.
Essas pequenas atitudes acumuladas ao longo dos anos de vida do pássaro preto, criam uma fragilidade emocional que eu acredito que ele não tenha se dado conta até acontecimentos posteriores do livro. Mesmo quando ele constrói uma boa amizade com a menina e eles tem uma identificação emocional muito forte, o pássaro tem dificuldades para aceitar aquele carinho e a sua confiança na nova amiga é facilmente abalada.
“Aquelas palavras pareciam acariciar o meu coração tão maltratado. Tão repentinas, mas tão acolhedoras. Eram palavras certas que chegaram sem bater, mas que jamais poderia recusar que elas entrassem.”
Um ponto que me surpreendeu, e não necessariamente foi algo negativo, é que eu acreditava que o livro entregaria um equilíbrio entre a menina e o pássaro, mas a verdade é que o enredo foca muito mais nas questões emocionais do pássaro do que nas experiências vividas pela menina – que ela conta ao longo das suas conversas com o pássaro preto. Confesso que fiquei com o desejo de uma narrativa em primeira pessoa dividia entre o pássaro e a menina.
O único ponto que realmente me tirou da imersão emocional do livro foram os diálogos e a construção da narrativa. Embora a escrita da autora tenha um potencial inegável, para algumas pessoas, a formalidade da escrita pode deixar a profundidade do enredo um pouco rasa. Mesmo os diálogos da menina com o pássaro tinham uma formalidade que, em alguns pontos do livro, impede de que o leitor perceba que existe uma amizade sendo construída.
A Menina que Libertou o Pássaro foi uma leitura com a qual eu me identifiquei do começo ao fim e acho que esse era o grande objetivo da autora. Se você consegue fazer o seu leitor conversar com o seu livro, gritando para o seu personagem não fazer determinada coisa porque você sabe que não vai dar certo, então com certeza você está entregando um bom livro. E A Menina que Libertou o Pássaro fez exatamente isso comigo, do começo ao fim.