e existe amor à primeira vista quando se trata de livros?
posso contar as inúmeras vezes que eu coloquei as mãos em um livro da holly black e nunca o li. a menina mais fria de coldtown esteve nas minhas mãos por anos até que decidi doá-lo na primeira oportunidade.
arrependimento não mata, mas tira o sono.
assisti muitos youtubers falando sobre o príncipe cruel. algumas críticas muito boas, outras nem tanto. eu não sabia o que esperar dessa série mas, sabia que aqui no brasil não se falava de outra coisa.
livros tem uma maneira estranha de nos surpreender. sem uma indicação do livro, eu jamais escolheria ou colocaria holly black na minha lista de leitura. logo eu, a mesma que passou semanas falando de a corte de espinhos e rosas da sarah j maas e estava louca por outro universo fae.
eu demorei alguns capítulos para me ambientar neste universo novo, mas logo de cara algumas coisas me chamaram atenção: a nossa protagonista, jude, estava sendo criada no mundo féerico pelo homem que havia matado sua família bem diante dos seus olhos.
a dinâmica do relacionamento de jude, taryn e madoc me deixava bastante incomodada e, durante muitos capítulos, eu achava que vivi era única irmã realmente sã das 3. digo, elas tinham visto a mãe morrer nas mãos da pessoa que hoje elas chamavam de “pai” – perturbador, porém essas nuances só deixaram o enredo mais interessante pra mim.
“fico chocada com o reconhecimento; se você vive sempre com medo, sempre com o perigo em seu encalço, não fica tão difícil assim fingir que não existe mais perigo”
jude vive em uma gaiola dourada, ao meu ver. ela faz tudo o que é possível – e impossível – para pertencer àquele mundo não humano, mas é sempre humilhada pelos fae na primeira oportunidade, principalmente por cardan – príncipe fae com vários problemas familiares também.
a forma como jude e a sua gêmea taryn se comportam nesse mundo fae me intrigou do começo ao fim. elas realmente tem um desejo profundo de pertencer, tanto que são capazes de fazer coisas absurdas para garantir o seu lugar ao sol – infelizmente, este spoiler eu não posso dar, mas o ódio permanece.
na outra ponta do nosso enredo temos cardan, o príncipe – cruel.
uma das coisas que mais me incomodam na narrativa em primeira pessoa é o fato de limitar a história ao que a protagonista sabe – no caso, a jude. desde o primeiro momento que cardan apareceu no livro eu o achei infinitamente mais interessante que todos os outros personagens. a acidez da sua personalidade nos instiga a tentar entende o que mais tem por trás daquele ódio nutrido pela humana que, não deveria nem ser digna de sua atenção.
quem explode de raiva também explode de amor, disse gabito nunes.
holly black separou alguns plots twists interessantes para esse enredo, eu achei. sempre que eu pensava que iria entrar em acontecimentos monótonos, tudo mudava e eu já não sabia mais em quais personagens eu poderia confiar. bem, eu podia confiar na jude, mas ela mesma não se mostrava digna de confiança às vezes.
“o verdadeiro poder não é dado. o verdadeiro poder não pode ser tirado”.
eu sou completamente obcecada por heroínas que não são perfeitas e tem um caráter extremamente duvidoso. e preciso dizer que holly black me entregou a protagonista dos sonhos. ao mesmo tempo que eu queria arrastar a cara da jude no asfalto, eu também a aplaudia de pé.
esse jogo de relações em o príncipe cruel é delicioso demais. o jogo político do livro é interessante e rouba completamente a cena, mas sem deixar de instigar o leitor com o romance que pode acontecer – ou não. viciante, desesperador, de tirar o sono de qualquer um que goste de um enredo bem escrito.
quanto mais eu lia, mais eu queria saber até onde jude seria capaz de ir. quem ela realmente considerava a sua família? que dor é essa que a transformava em uma guerreira tão formidável? no que ela se tornaria ao final desse primeiro livro? as dúvidas só aguçaram ainda mais a minha curiosidade como leitora.
holly black se tornou um vício e uma inspiração.
existe uma simplicidade complexa nesse enredo que me fascina. para alguns vai ser apenas mais um romance fae para colocar na estante, outros vão aprofundar nos conflitos políticos dos personagens e poucos – como eu – vão focar no emocional visivelmente abalado dos nossos protagonistas.
não sei se conseguiria superar essa leitura. mal sobrevivi sem o segundo livro por muito tempo (nunca amei tanto a galera record na minha vida). alguns enredos pegam a gente de jeito na primeira página e o príncipe cruel definitivamente foi um deles.