Aqueles que acompanham o blog há algum sabem que eu sou completamente obcecada pelos livros da Jennifer E. Smith. A forma profunda como ela escreve os seus personagens sempre me tocou e, se você já leu qualquer outro livro dela, provavelmente sabe que é muito difícil não se apaixonar pela escrita dela desde o primeiro capítulo. Apesar disso, Sorte Grande não teve um impacto tão positivo como eu estava esperando. Eu adorei a escrita da autora e a forma como ela desenvolveu seus personagens, mas alguma coisa nesse enredo simplesmente não funcionou para mim.
Eu tenho uma queda muito grande por Young Adults contemporâneos. É um gênero que sempre fala comigo de uma forma muito pessoal e, a maneira como Smith conseguiu construir a atmosfera de Sorte Grande foi incrível. Cada um dos personagens tem uma questão a se resolver e todas as questões, de alguma forma, fizeram com que eu me conectasse com esses personagens e quisesse conhecer mais sobre quem eles eram, mas o único problema para mim foi o fato de o enredo simplesmente não parecer caminhar de um capítulo para o outro, entendem?
“…sei que não é assim que as coisas funcionam. A vida não se curva à vontade de ninguém. E também não funciona baseada em um sistema de créditos. Só porque o mundo roubou algo de mim, não significa que me deva outra coisa em troca. E só porque estoquei uma quantidade grande de má sorte, não significa que vá receber algo de bom em troca.”
A narrativa é em primeira pessoa, do ponto de vista da nossa protagonista, Alice. E embora a personagem tenha me conquistado, eu não conseguia ver que o enredo estava se desenvolvendo até mais da metade da leitura. Era como se a história estivesse andando em círculos até um determinado ponto e a sensação que eu tinha era que as cenas se repetiam cada vez mais, assim como alguns diálogos e nada realmente acontecia ali. Eu demorei bastante tempo até conseguir engatar na leitura, mais ou menos da mesma forma que eu demorei para me conectar Ser Feliz é Assim, outro livro da autora que me deu bastante trabalho para terminar.
Não é nenhuma novidade dizer que a escrita da autora não decepcionou, certo? Eu gostei muito da forma como ela conseguiu trabalhar assuntos importantes dentro do enredo como, por exemplo, a forma como algumas pessoas escolhem lidar com o luto e a relação adolescente com os pais. Além disso, nós temos uma visão muito interessante de como é um adolescente ganhar muito dinheiro na loteria e como isso pode afetar a vida das pessoas a sua volta. De tudo o que eu vi Smith colocar nesse enredo, os personagens, de forma individual, foi o que eu mais gostei em Sorte Grande. Era como se cada um tivesse algo que fizesse com que eu me conectasse com o que eles estavam sentindo.
Eu realmente gostei a Alice como personagem. De todos os personagens da Jennifer até hoje, a voz da Alice me conquistou desde o começo do livro. Ela é uma protagonista que teve muitas perdas e, apesar da sua falta de fé no universo, ela continua tentando fazer o melhor que pode pelas pessoas a sua volta. Eu gostei muito da sua personalidade simples, sempre preocupada com os amigos e com a família. Também gostei da forma como ela me soou muito “realista” do que a maior parte dos personagens de YA soam e isso me deu uma sensação de proximidade muito maior com ela.
“Talvez seja por estarmos sentados juntos em uma cama de hotel no escuro, e que ainda assim a ideia de me beijar não poderia estar mais distante da cabeça de Teddy. Ou, talvez, até porque eu também seja um de seus projetos abandonados. Porque ele me beijou como se realmente quisesse me beijar. E depois descobriu que não queria mais.”
Agora se você pegou esse livro por causa do romance, acho que você vai se decepcionar um pouco. Não se enganem, eu sou all about romance, também, mas esse relacionamento do Teddy com a Alice não me convenceu. Eu acho que faltou um pouco mais clareza por parte do Teddy neste ponto. Eu nunca conseguia dizer se ele realmente gostava da Alice, ou se ele estava usando-a de apoio para qualquer que fosse o problema dele naquele momento. E mesmo quando as coisas começam a andar entre eles, não sei, simplesmente não me pareceu certo o que estava acontecendo, sabe? Eu acho que a Alice merecia um cara muito melhor.
E eu não vou dizer que eu não gostei do Teddy, porque eu gostei muito. Uma das partes mais interessantes do livro é a maneira como ganhar na loteria afetou a vida e a personalidade dele e como fez com que ele enxergasse a relação com o próprio pai de uma maneira diferente. Foi muito fácil me identificar com ele, principalmente porque as possibilidades do dinheiro revelaram para ele oportunidades que ele nunca havia conquistado antes e isso foi muito interessante de ver. Ainda assim, no quesito romance, para um cara que tem um jeito de ser esperto, ele é bastante lento para algumas coisas, socorro.
Eu realmente gostei do desfecho de Sorte Grande, mas o desenvolvimento foi uma questão que eu não consegui deixar para lá. Mesmo com esses personagens maravilhosos e tudo o que eu gostei no livro, a leitura soou arrastada até o final e isso foi uma grande negativa para mim. Já tentaram terminar um livro que parece que a leitura não tá indo? É muito desconfortável. Ainda assim, Smith me entregou duas coisas que eu mais gosto nos seus livros: uma escrita maravilhosa e personagens que eu nunca vou esquecer.