O Ódio Que Você Semeia é o livro de estreia da Angie Thomas, e foi publicado ainda no início desse ano, 2017. De lá pra cá, o livro foi parar na famosa lista do New York Times, em primeiro lugar, e de lá pra cá, ele também chamou minha atenção. Muito. Por razões mil, criei e alimentei altas expectativas pelo que encontraria no livro, graças à sinopse e à capa – passei o ano inteiro querendo lê-lo. Angie Thomas tocou em uma ferida bem feia e aberta dos Estados Unidos, e, talvez sem saber, tocou também em ferida brasileira – universal, talvez -, pois o livro aborda, dentre várias coisas, a alta taxa de mortalidade de jovens negros pela polícia em situações em que, normalmente, não fosse um negro na situação, a morte não ocorreria, e foi exatamente aí onde minhas expectativas encontraram abrigo. A Galera ainda fez uma playlist no Spotify, baseada no livro, mas eu adicionaria outras, mencionadas no livro, como fez a própria Angie Thomas, nessa playlist.
A capa do livro, com uma garota negra segurando um cartaz no qual se lê o título do livro em letras imensas, com apenas seus olhos a mostra, já me deu uma sensação de que eu sentiria um impacto, me lembrou protesto. A contracapa, com o jovem negro sem rosto, abaixo da frase “A justiça é cega?”, já me deu outra sensação, a de que eu precisaria ler com calma, sabendo que teria algum impacto, grande ou pequeno. Minhas expectativas se misturaram com o frio na barriga e eu soube que esse livro poderia ser bem significativo pra mim – não se tornaria uma bíblia ou algo do tipo, mas me tocaria de algum modo, me passaria alguma mensagem. Meu medo? A Angie Thomas ter me enganado com a sinopse e me deixar chupando dedo.

Logo nos primeiros capítulos foi possível compreender bem o contexto da Starr, a protagonista: moradora do gueto, negra, que se divide entre fragmentos de si mesma de acordo com o ambiente onde estiver: Starr de casa e dos amigos negros de Garden Heights, a Starr de Williamson, a escola privada de classe média-alta, no subúrbio, em que estuda, onde tem seus amigos brancos e seu namorado Chris. Em casa, Starr pode ser ela mesma, enquanto na escola, ela deve agir de forma neutra para não incorporar nenhum estereótipo de negra do gueto – e esses mundos não se misturam. Até aí, nada se mistura e ela consegue manter essa linha divisória perfeitamente. Em uma trágica noite, Starr testemunha o assassinado a sangue frio de seu melhor amigo, Khalil, por um policial. Ela tem dezesseis anos. Ele toma três tiros nas costas, estando desarmado. Leia mais