Dois Garotos Se Beijando é uma ficção-americana, escrito pelo autor David Levithan e publicado no Brasil pela Editora Galera Record. O autor possui outras obras publicadas no Brasil, sendo as mais conhecidas Todo Dia e Will & Will, escrito em parceria com John Green.
Craig e Harry foram namorados durante algum tempo, mas mesmo com o fim do relacionamento, continuaram amigos. Quando o jovem Tariq é agredido na rua por ser homossexual, os dois garotos se compadecem da situação, mesmo sem conhecê-lo e então tem a ideia de criar um protesto contra esse tipo de violência onde eles passariam 32 horas se beijando para quebrar o recorde de beijo mais longo.
A ideia principal do beijo era mostrar para as pessoas que é perfeitamente normal dois garotos se beijando. Porque não apenas dois garotos. Porém, o próprio enredo do livro nos leva a conhecer outras situações de jovens assim como Tariq, Craig e Harry. Em paralelo com o desafio de 32 horas se beijando, o narrador do livro nos conta a história de outros jovens que vivem situações completamente diferentes, mas que possuem – de certa forma – o mesmo sentimento.
É então que conhecemos Peter, Neil, Avery, Ryan e Cooper, com suas inseguranças particulares, seus medos e também seu desejo de caminhar no mundo lá fora sem ter que esconder quem realmente são. Assim, com todos esses personagens envolvidos direta e indiretamente, acompanhamos o ato simples de um beijo mostrar que somos todos apenas seres humanos.
“Que sensação horrível é essa a de saber que, se a doença tivesse afetado primeiramente presidentes de associações de pais e mestres, ou padres, ou garotas brancas adolescentes, a epidemia teria acabado anos antes e dezenas de milhares, se não centenas de milhares de vidas seriam salvas. Não escolhemos nossa identidade, mas fomos escolhidos para morrer por meio dela.”
A narrativa do livro é simplesmente sensacional. Eu não consigo encontrar outras palavras para descrever. O ponto de vista de todo enredo é dado a partir de um narrador observador que venha a ser todos os homossexuais que faleceram por conta da AIDS anos anos dos personagens principais do livro nascerem. Através desse narrador, conseguimos ter uma compreensão muito mais profunda do que os personagens estão sentindo, pensando e como aquilo afeta o seu dia a dia, a sua família e a maneira como eles veem o mundo.
O enredo do livro é bastante completo. O autor nos apresenta diversas situações, onde não vemos apenas a família que aceita bem a escolha do filho, mas também aquela que se revolta quando descobre e aquela que não sabe bem como agir em relação à situação. Temos as pessoas que aceitam, as pessoas que respeitam e também as pessoas que se revoltam. Mas muito mais que isso, nós temos os envolvidos, as pessoas que sofrem, as pessoas que sentem na pele, e isso torna a narrativa ainda mais intensa.
A primeira coisa que eu pensei quando comecei a ler este livro foi: eu vou chorar. E isso aconteceu em diversas passagens do livro. Os personagens são tão únicos em suas histórias, em seus medos, que eu não conseguia não amar cada um deles em seu momento de foco na narrativa. Craig e Harry é um casal que, de certa forma, não são mais um casal e ainda assim possuem uma confiança enorme um no outro, e quando decidem fazer o beijo juntos, eu realmente não conseguiria imaginá-los fazendo isso com outra pessoa.
Avery e Ryan estão se conhecendo aos poucos. Simplesmente encontraram um no outro um porto seguro que não tinham encontrado em outra pessoa. Eu conseguia vê-los se entendendo pelos olhos um do outro, compartilhando os seus medos e sendo abertos sobre o que estava por vir. Tariq foi um personagem que me emocionou, principalmente pela sua força de vontade de estar ali para ver o beijo acontecer e por não ter deixado que o incidente abalasse quem ele era.
“Se você se livrar de toda a merda idiota e arbitrária com a qual a sociedade controla a gente, vai se sentir mais livre e, se você se sentir mais livre, vai se sentir mais feliz.”
Mas de todos, o que me emocionou mesmo foi Cooper. Eu não sei. De certa forma eu conseguia me conectar mais com a necessidade que ele tinha de entender o que estava acontecendo com ele, e conforme a narrativa avançava com foco nele, eu tinha um desejo muito grande de poder fazer alguma coisa, mesmo sabendo que não podia.
Dois Garotos Se Beijando foi um dos livros mais intensos que li durante esse ano. Com certeza, o melhor até agora. A maneira como David Levithan escolheu contar essa história, mexeu comigo de formas que eu acho que não conseguiria simplesmente colocar em palavras. Eu me emocionei com esse livro de maneiras diferentes. Eu me senti feliz por Craig e Harry, eu me apaixonei por Neil e Peter, eu entendi os sentimentos de Tariq.
É uma leitura que tem um combo de sentimentos que a gente simplesmente não consegue ignorar. Você se entrega na leitura nas primeiras páginas e sente seu coração apertar até o desfecho do livro. Foi umas das experiências literárias mais incríveis e emocionantes que eu tive nos últimos tempos e certamente um livro que todo mundo deveria ler, gostando ou não dá temática.
Por fim, acho que vocês deveriam saber que eu demorei dias para escrever essa resenha porque eu não conseguia fazê-la sem me emocionar. Acho que se alguém viesse me pedir um livro que fosse causar a maior ressaca literária da sua vida, com certeza eu indicaria este.